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Evento no Campus Ouro Preto encerra projeto do programa Power4Girls
Dois dias para celebrar o empoderamento feminino, o diálogo com a comunidade, a responsabilidade socioambiental e a sensação de dever cumprido - que não exclui a vontade de se fazer ainda mais. Assim foi o evento de encerramento do projeto Dignidade para Elas, uma das 20 iniciativas selecionadas nacionalmente para a edição 2022 do programa Power4Girls, promovido pela Embaixada e Consulados dos EUA no Brasil, em parceria com o Instituto Glória.
Para apresentar as conquistas alcançadas até o momento, as integrantes da equipe Por Elas reuniram, nos dias 9 e 10 de agosto, no Campus Ouro Preto, comunidade acadêmica, mulheres atendidas pelo projeto, especialistas envolvidos na realização das atividades, além de representantes da Embaixada e Consulados dos EUA no Brasil.
Composto pela docente Érica Aniceto (orientadora) e pelas alunas Alice Pedroza, Cecília Costa, Vitória Cristina Silva e Camilla Ferreira, o grupo teve como foco contribuir para minimizar a pobreza menstrual com a criação de um absorvente biodegradável. Mas, para além das atividades em laboratório, a equipe manteve forte atuação social, promovendo palestras e rodas de conversa com a participação de especialistas em áreas diversas, entre elas direito e saúde da mulher, levando informação e empoderando mulheres em situação de vulnerabilidade
Absorvente biodegradável a partir do pó da pedra-sabão
O desafio: desenvolver um absorvente descartável biodegradável, a partir de matéria-prima local, de forma a contribuir para a diminuição dos impactos ambientais ocasionados pelo descarte inadequado de resíduos.
A solução encontrada foi a fabricação de um polímero biodegradável a partir do pó da pedra-sabão, resultado alcançado após muita pesquisa, além de orientação de professores das áreas de física, química e meio-ambiente do campus. No entanto, apesar de contarem com apoio dos docentes, são as próprias integrantes da equipe que colocam a mão na massa, produzindo o polímero em laboratórios da instituição.
Vitória Cristina conta que o que levou à escolha desta matéria-prima foi a possibilidade de contribuir para a minimização dos efeitos nocivos acarretados pelo descarte inadequado do resíduo. “Além de todo impacto ambiental, há impacto na saúde dos artesãos. O pó é bem fino e se espalha facilmente. Imagine qual não será a consequência para a saúde das pessoas? Estamos felizes com o resultado”.
As vantagens não param por aí. “Os absorventes tradicionais são cheios de componentes químicos, prejudiciais à saúde da mulher, além de todo o impacto ambiental que causam. Eles demoram quatro séculos para se decompor, ou seja, morremos e o absorvente fica por aqui”, ressalta Alice.
Agora, o protótipo precisa passar por testes de resistência, qualidade e funcionalidade. Para ser comercializado, é necessário, ainda, aprovação da Anvisa. “A semente já foi jogada. Queremos tentar patrocínios, inclusive com apoio do programa, para produzir em larga escala”, explica Érica.
Para além do laboratório: responsabilidade social e o Por Elas em Ação
Elas queriam mais. Ao longo da jornada, a equipe percebeu que apenas o absorvente biodegradável não era suficiente. “Estudando sobre pobreza menstrual e o contexto da sociedade, nos deparamos com um problema muito maior do que imaginávamos. Assim, surgiu uma nova vertente, paralela às nossas atividades no laboratório”, conta Cecília Costa.
Com o “Por Elas em Ação”, elas encontraram uma forma de se conectar com as mulheres público-alvo do projeto, promovendo encontros com alunas da EJA de três escolas do município de Mariana.
De acordo com a coordenadora do projeto, cerca de 70 mulheres tiveram a oportunidade de participar de ciclos de palestras e rodas de conversa, que contaram com a presença de ex-promotores, advogados, especialistas em saúde da mulher, além de palestrantes motivacionais.
Ao longo do caminho, elas se depararam com situações de violência doméstica, drogas, abuso infantil, gravidez na adolescência, entre outros casos. “Construímos uma rede de apoio e conversamos com mulheres de diferentes idades e histórias. Descobrimos a importância dessa luta, e não pretendemos parar por aqui”, garante Cecília.
O que vem por aí
Por perceber que ainda há muito a ser feito, a proposta é que a iniciativa se torne, futuramente, um projeto de extensão, ampliando seu campo de atuação. “Muitos profissionais que participaram das atividades se interessaram em dar continuidade. É um projeto apaixonante. Há pessoas que querem montar um coletivo em Mariana. Queremos convidar advogados, conseguir mutirão de consultas ginecológicas… A nossa ideia, agora, é partir para a ação, não dentro do programa, mas como cidadãs. Estou estabelecendo parceria com outros professores. É uma iniciativa que não pode acabar, pois é muito benéfica para a comunidade”, destaca Érica.
A edição nacional do Programa Power4Girls será encerrada em setembro, quando a equipe do Campus Ouro Preto irá a Brasília concorrer a uma premiação. O projeto das alunas está participando de uma votação no Facebook. Para participar, acesse este link.
O que dizem sobre o projeto?
“O programa Power4Girls visa empoderar meninas por meio do desenvolvimento de habilidades de empreendedorismo, inovação e responsabilidade social. Necessitamos de pessoas assim, criativas, que pensem no bem-estar de suas comunidades e utilizem suas habilidades para ajudar suas comunidades. Estou muito feliz por estar aqui, conhecendo o Campus Ouro Preto e um pouco mais sobre a iniciativa. Parabéns para alunas e professora."
Katherine Earhart Ordoñez - Cônsul dos Estados Unidos em Belo Horizonte
“O projeto teve um significado fundamental na vida de nossas alunas, e em nossas vidas também. Deu lugar de fala para todas elas, especialmente para algumas que se encontram em situação mais vulnerável. Para nós, foi uma oportunidade de termos, de verdade, a presença do Instituto Federal, de alguma forma, dentro da educação básica. Formamos nossos alunos e enviamos para o Instituto, e recebemos este prêmio de volta. Agradecemos essa parceria e que venham outras! Esperamos de braços abertos!”
Elizabeth Reis Sá - Professora da EJA na E.M. Monsenhor José Cota
“O projeto dessas meninas me impactou e quebrou barreiras para falar sobre menstruação. Eu tinha um bloqueio para falar sobre esse assunto. Ele também levou pessoas para falar sobre nossos direitos como estudantes, mulheres e esposas. Levou pessoas para conhecermos nosso corpo, aumentou nossa autoestima. Fez diferença na minha vida e me ajudou com minhas filhas. Hoje eu consigo falar mais abertamente com elas, eu tinha uma barreira. Não parem nunca! Vou transmitir o que vocês me passaram adiante.”
Claudiane Alves Silva Bezerra, aluna da EJA da E.M. Monsenhor José Cota
“É muito importante que tenhamos projetos assim, para além da sala de aula. Esta iniciativa nos faz acreditar que podemos participar de programas como esse e nos mostra que as instituições ainda estão dispostas a ter ações positivas e propositivas em prol de uma sociedade mais digna. Também nos faz acreditar que meninas do ensino médio podem chegar cada vez mais longe.”
Reginato Fernandes dos Santos - Diretor-geral do IFMG - Campus Ouro Preto
“Em dezembro de 2021, quatro alunas que não se conheciam e uma professora foram movidas a mudar o mundo para melhor. Elas tampouco tinham a dimensão da transformação que causariam nos outros e na transformação que causariam em si mesmas.”
Sílvia Grasiella Moreira Almeida - Diretora de Pesquisa, Inovação e Pós-graduação
“Quando a gente se depara com a necessidade de projetos que discutam a dignidade menstrual, estamos falando de questões básicas sobre os corpos femininos, questões simples que já poderiam ter sido resolvidas se estivéssemos num planeta que distribui renda. Parabenizo imensamente este trabalho, essa sensibilidade das colegas.”
Laura Fernanda Rodrigues da Rocha - Coordenadora de Planejamento e Ensino